Colégio Andrews completa cem anos na busca por manter qualidade e vocação de acolher diferenças - Jornal do Brasil |
Colégio Andrews completa cem anos na busca por manter qualidade e vocação de acolher diferenças - Jornal do Brasil (RJ) Corria o ano de 1918, quando as mulheres ainda desempenhavam um papel secundário na sociedade brasileira. As professoras de inglês, Isabel Andrews, e de francês, Alice Flexa Ribeiro, porém, deram-se as mãos na sociedade que originou o curso Andrews, que este ano comemora seu centenário com mil alunos, alguns deles netos e bisnetos de ex-alunos, do ensino fundamental ao médio. As duas haviam se separado de seus maridos – atitude ainda sujeita a muito preconceito na época – e apostaram todas as fichas na vida profissional, para assegurar a criação de seus familiares. As circunstâncias contribuíram para gerar os diferenciais que marcaram o DNA do Colégio Andrews, hoje situado no Humaitá, em Botafogo, na zona Sul da cidade. “Foi um dos primeiros a reunir meninos e meninas; era laico e aceitava crianças nascidas de casamentos desfeitos”, lembra o atual diretor, Pedro Flexa Ribeiro, 55 anos, neto de Alice, cuja família vem do Pará. Nos anos 30, o desembarque no Rio de Janeiro de famílias judias em fuga do nazismo, em expansão na Europa, encontrou ali um porto seguro. A tolerância religiosa e social contribuiu para atrair estrangeiros, de uma maneira geral, com a cabeça mais aberta que os brasileiros de então. Com cerca de 100 mil jovens formados nessas dez décadas, estas características, no entanto, deixaram de ser diferenciais. “Consolidou-se a ideia do convívio com as diferenças e, neste momento de segmentações, quando proliferam escolas bilíngues, católicas ou de redes judaicas, mantivemos a vocação de acolher as diferentes tribos e conviver com as diferenças”, resume Flexa Ribeiro. As comemorações pelos 100 anos começaram desde o início de 2018 em torno do tema “narrar-se para...”, de forma a questionar para que serve o sujeito, o homem e a instituição, além de palestras e das festividades de praxe. A entrada do teatro E se hoje o colégio dá uma importância especial à arte e ao teatro, a ex-aluna Maria Padilha, carioca de 58 anos, teve uma involuntária participação neste processo. Ela estudou no Andrews por sete anos e, depois de formada, resolveu voltar a seu colégio por outras razões. “Isso aconteceu por volta dos meus 19 anos. Cheguei lá com Miguel Falabella, também ex-aluno, porque precisávamos de dinheiro. Chegamos na diretoria falando da importância do colégio oferecer aulas de teatro, e eles compraram nossa ideia! Montamos peças bem legais, dei aulas para Luciana Braga, Edgar Amorim e Falabella ensinou teatro a Marisa Monte, que também estudou lá”. Falabella se lembra que morava na Ilha do Governador e tinha de “fazer o sacrifício imenso” de sair de casa às 5h30 para chegar à Praia de Botafogo 308 – onde o colégio funcionou de 1926 até o fim do século passado - a tempo de assistir as aulas. "O Andrews me deu uma formação sólida, com professores espetaculares, minhas recordações do colégio são as melhores possíveis. Acabei praticamente morando na casa de alguns colegas de turma que, até hoje, são amigos próximos e queridos”, recorda. Maria Padilha também traz boas recordações de seus professores, como Chico Alencar, hoje deputado federal pelo PSOL. “Era uma escola democrática, eu convivia com pessoas bem diferentes”, completa ela. Alunos ilustres são o que não falta ao Andrews, por onde também passaram Tom Jobim, Clarisse Lispector, Drica Moraes e Roberto Frejat, entre outros. A fim de manter o elevado padrão, houve um grande esforço para atualização nos últimos 20 anos, “com uma forte entrada da psicoterapia e da teoria psicanalítica articuladas à educação, de forma a contribuir para o sujeito se conhecer em atitude de trabalhar, em movimento, em busca do saber”, diz Flexa Ribeiro. “O aluno tem de saber articular a inteligência e o desejo, o que é que nos põe em movimento na busca do saber”. O esforço não se limitou a atividades intelectuais. No ano passado, a escola instalou equipamentos de informática e multimídia. “A estrutura tecnológica visa favorecer vivências voltadas ao desenvolvimento do raciocínio lógico,” conclui.
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