Portos têm a pior avaliação desde 2007

Portos têm a pior avaliação desde 2007


Renée Pereira

A frustração com a nova lei dos portos, aprovada no ano passado, ajudou a derrubar a nota dada pelas empresas ao sistema portuário brasileiro. Uma pesquisa de opinião feita pelo Instituto Ilos mostra que a avaliação feita por 169 companhias, de 18 setores da economia, é a pior desde 2007. Naquela época, quando o trabalho foi iniciado, a nota média dada pelos usuários dos portos era de 6,3; subiu para 6,9, em 2009; 7,3, em 2012; e agora caiu para 6,8.
Com os projetos de expansão dos portos públicos travados no Tribunal de Contas da União (TCU), o governo só tem conseguido liberar, de forma ainda morosa e aquém das necessidades, a construção de alguns terminais privativos (para movimentação de carga própria e de terceiros). "Por enquanto, a nova lei tem tido um efeito contrário. Em vez de ampliar os investimentos, o setor parou. Isso cria um clima negativo e a percepção dos usuários piora em relação aos serviços prestados", afirma o presidente do Ilos, Paulo Fleury.
Ele explica que os profissionais de logística das empresas deram nota de 0 a 10 para os três principais portos que usam. As piores avaliações vieram dos setores de mineração, químico, petroquímico, higiene e limpeza, cosmético e farmácia. Na média, os terminais privativos tiveram as melhores notas e os públicos, as piores.
"Essa posição reflete dificuldades de acesso (terrestre e marítimo), burocracia, mão de obra, etc. Os terminais que estão dentro do porto são bons, mas a parte coletiva não é", avalia Fleury.
A liderança do ranking, elaborado pelo Ilos, ficou com um dos mais novos terminais do País. O Porto Itapoá, localizado na Baia da Babitonga, em Santa Catarina, precisou de apenas três anos de operação para conquistar a maior nota dos usuários: 8,9. O terminal é administrado pelas empresas Aliança (da Hamburg Süd), Battistella e Log Z (formada por fundos de investimentos administrados pela BRZ) e é especializado na movimentação de contêineres.
"Nossa entrada no setor foi desafiante. Itapoá era uma cidade turística, de
veraneio, sem nenhuma tradição na atividade portuária. Além disso, nossos
concorrentes (Paranaguá, Navegantes e São Francisco do Sul) já estavam
consolidados", afirma o diretor do porto, Márcio Guiot. A saída, diz ele, foi adotar práticas diferenciadas, sejam de operação ou tarifária.
Com mais tempo de atividade no setor, o Porto do Pecém, ficou com o segundo lugar no ranking do Ilos. O terminal privativo, controlado pelo governo do Estado do Ceará, obteve nota 7,9. Inaugurado em 2002, movimenta granéis sólidos e líquidos, além de contêineres. O terceiro melhor avaliado, com 7,44 pontos, foi o Porto de Navegantes, vizinho de Itapoá. O terminal é administrado pela Triunfo Participações (TPI).
Lanternas. Na outra ponta ficaram os portos públicos: Santos (6,36), Salvador (6,33) e Paranaguá (6,33). São três complexos portuários formados por grandes terminais que movimentam uma série de cargas, como contêineres, veículos, combustíveis, soja e açúcar. A administração é feita por estatais federais (Santos e Salvador) ou estaduais (Paranaguá). Embora seja uma pesquisa de opinião, os três portos não aceitam a posição dada a eles. Além disso, questionam terem sido colocados no mesmo ranking que os terminais privativos, que, na maioria das vezes, operam apenas um tipo de carga.
Em nota, a Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), que administra o Porto de Santos, diz que é inconcebível comparar portos de naturezas distintas.
Segundo a estatal, o porto tem a melhor oferta de infraestrutura, o maior parque de armazenagem do País e a melhor condição de acessibilidade do sistema portuário. "Além disso, conta com a maior quantidade de rotas marítimas regulares. Por ano, passam por Santos, 5.300 navios." Por isso, não entende a baixa avaliação dos entrevistados.
No caso de Salvador, o diretor executivo da Associação de Usuários dos Portos da Bahia (Usuport), Paulo Villa, afirma que o resultado da pesquisa não surpreende.
"Há dez anos, pedimos que o porto seja ampliado, mas tem ocorrido o contrário. O porto se apequenou." Ele afirma que o preço para movimentação de contêiner subiu 1.067% desde 2000. "Isso retirou a competitividade das empresas, que tiveram de buscar rotas alternativas."
Villa afirma que, por ter apenas um terminal de contêiner, as linhas regulares das empresas de navegação foram minguando. Qualquer operação com a China tem sido feita por Santos, por exemplo.
Numa importação, a mercadoria é desembarcada em São Paulo, e levada para a Bahia por caminhões. As frutas são embarcadas por Pecém.
Na avaliação do professor da Fundação Dom Cabral, Paulo Resende, os esforços aplicados no sistema portuário nos últimos anos não foram suficientes para reduzir os problemas. "Para piorar, os projetos e programas estão andando a passos de tartaruga."

Líder do ranking planeja quadruplicar de tamanho

O Porto Itapoá, no litoral norte de Santa Catarina, teve uma estreia difícil. Foi inaugurado em 2010, mas só começou a operar entre 2011 e 2012, de forma parcial. O terminal ficou pronto, mas o governo do Estado não conseguiu entregar a tempo os 23 quilômetros do acesso terrestre prometido para os acionistas da empresa. No início de 2012, o terminal ainda operava com 30% da capacidade. Mas os problemas foram superados e hoje a empresa aguarda autorização para expandir o terminal. Até o fim do ano, Itapoá vai alcançar sua capacidade máxima de 500 mil teus (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés), o que justifica o projeto de ampliação. O diretor do terminal, Marcio Guiot, afirma que a expectativa é iniciar em 2015 as obras que vão quadruplicar a capacidade atual.
A expansão será dividida em duas fases, somando R$ 1 bilhão de investimentos. Quando concluídas as obras, o terminal terá capacidade para movimentar 2 milhões de teus. O atual cais, de 630 metros de comprimento, passará a ter 1.200 metros; e o pátio, de 156 mil metros quadrados, será aumentado para 450 mil metros quadrados. Um dos pontos fortes de Itapoá é a operação de carga refrigerada, que exige infraestrutura especial, com tomadas para contêiner reefer (equipamento refrigerado usado para o carregamento de cargas perecíveis). Esse foi um dos setores que contribuíram para dar ao porto a liderança no ranking do Ilos. Mas, como em outros portos, Itapoá também sofre com restrições de acesso. O berço de atracação do terminal tem 16 metros, um dos maiores do País. Mas o canal de acesso não passa dos 14 metros. A limitação fica ainda mais grave por causa de uma restrição numa curva de 90 graus no canal que só permite navios com calado de 11 metros, explica Guiot. O aprofundamento está incluído no Plano de Dragagem 1, como um benefício ao Porto de São Francisco do Sul.

Paranaguá contesta o último lugar

Inaugurado há quase 80 anos, o Porto de Paranaguá é um dos principais destinos dos grãos produzidos no País. Hoje, 70% de tudo que é movimentado no complexo portuário está relacionando ao agronegócio. E foi exatamente esse setor que ajudou a reduzir a nota média atribuída pelos usuários ao porto, segundo os dados do Instituto Ilos. Na média, o setor de agronegócio deu nota 6,54 para Paranaguá. Ao lado de Salvador, o porto amargou a pior colocação entre outros 12 portos. A Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina não concorda com o ranking e diz que apresenta os melhores indicadores de performance na área.
"Temos um programa chamado Porto no Campo, em que visitamos as regiões
produtoras a cada 60 dias para ouvir as dificuldades e analisar que medidas que
podemos tomar", diz o diretor-presidente da Appa, Luiz Henrique Dividino, questionando a pesquisa do Ilos.
Além disso, ele afirma que o porto não registra filas de caminhões nas rodovias há três anos e que reduziu o tempo de espera para atracação de navios na exportação de granéis de 60 para 10 dias", diz o executivo. Segundo Dividino, na importação, os valores pagos em demurrage - multa aplicada pelo armador ao cliente pelo atraso na devolução do contêiner - caíram m42%. Ele afirma ainda que, desde 2011, a administração está investindo mais de R$ 520 milhões, com recursos próprios, na reforma e recuperação de berços para aprofundamento do cais, dragagem e aquisição de equipamentos. "É o maior investimento de uma autoridade portuária com recursos próprios." Dividino destaca que, no momento, Paranaguá aguarda a liberação de novos empreendimentos que deverão ser implementados pelo programa de concessão da Secretaria de Portos - que está travado sem aprovação do Tribunal de Contas da União.



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