Artigo "Caminhos para a competitividade"

 A Tribuna - 10 de junho 2010 - autor: Elias Gedeon

O encontro de cúpula dos países emergentes que formam o grupo dos BRICs – Brasil, Rússia, Índia e China – realizado em Brasília em abril nos deu a oportunidade de fazer uma breve análise sobre o nosso papel no cenário mundial. Juntos, os quatro gigantes detêm 42% da população e 14,5% das exportações mundiais, tendo sido responsável por 50% da expansão do comércio mundial nos últimos anos.
 
Chama a atenção, porém, o fato de o Brasil estar longe de ter um desempenho no comércio exterior à altura de sua economia. Comparativamente, está bem atrás da China em volume e perde para Rússia e Índia quando se trata de exportação de manufaturados.
 
Apesar de sermos a oitava economia do mundo, com PIB de US$ 1,4 trilhão - o que nos dá a segunda colocação no BRIC - representamos apenas ínfimos 1,2% do comércio global e estamos longe de figurar entre os maiores exportadores – ranking que tem a China como primeira colocada desde o ano passado, quando desbancou os EUA. Do ponto de vista estrutural, há muito a fazer para termos uma pauta de exportações com maior parcela de produtos manufaturados, agregando valor ao nosso comércio exterior.
 
Válido dizer que importar muito não é e nunca foi problema. A inserção global pressupõe uma via de mão-dupla e, quanto mais intensas forem as trocas, maiores serão os benefícios para os países envolvidos. Tampouco é ruim ser um grande exportador de produtos básicos, desde é claro, que se produza o suficiente para suprir o seu mercado interno e não se deixe de agregar valor com bens industrializados.
 
Na questão da competitividade, os verdadeiros entraves brasileiros dizem respeito, sobretudo, a uma carga tributária irracional, porque além de excessiva pune o consumo, reduzindo os ganhos de escala; a uma legislação trabalhista igualmente equivocada, pois onera o emprego; ao excesso de burocracia; e a enormes deficiências na infraestrutura logística, o que impõe crescentes custos operacionais à cadeia produtiva. 
 
Modernizar as legislações tributária e trabalhista, pelo desafio político, reconheça-se, é uma missão de longo prazo, mas que não deve ser negligenciada. No curto prazo, porém, podemos instituir mecanismos que simplifiquem os procedimentos alfandegários, eliminando a burocracia. Ao mesmo tempo, devemos buscar uma melhoria da qualidade de nossos gastos, permitindo que sejam feitos mais investimentos em infraestrutura.
 
O Brasil investiu apenas o equivalente a 17% de seu PIB no ano passado, sendo que a maior parte dos aportes (12,2%) coube ao setor privado. Para crescer 5% ao ano, estima-se que o país precisaria investir de 20% a 25% do PIB, pelo menos. Lembremos que a China investe em torno de 40% do PIB para ter rodovias, ferrovias e portos eficientes.
 
Em suma, o encontro dos BRICs, serviu para nos lembrar o que devemos fazer na busca de maior competitividade e inserção comercial.


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