Matéria "Importação garante retomada do frete" |
Valor econômico - 17 de setembro de 2010 - Autor: Fernanda Pires Depois de ir à lona durante a crise mundial e amargar em 2009 o pior ano da história - com perdas mundiais estimadas em US$ 20 bilhões -, o transporte marítimo de contêineres retomou os volumes pré-colapso de 2008 chegando, em algumas rotas, a superar os números de dois anos atrás. Os valores dos fretes, porém, não acompanharam o ritmo e, em maior ou menor grau, ainda estão defasados, retardando a recomposição dos lucros dos armadores. De acordo com dados da consultoria marítima Datamar, o tráfego Brasil-Estados Unidos, mais afetado na crise, teve em junho último o ponto de inflexão em volumes na comparação entre a primeira metade deste ano e a de 2008. A rota registrou em junho crescimento de 4,7% sobre o mesmo mês de 2008, saindo de 50.156 Teus (contêiner de 20 pés) para 52.543 Teus. O frete, porém, permanece depreciado. O valor para enviar um contêiner de 40 pés do Brasil para a Costa Leste dos Estados Unidos hoje custa US$ 1.400, defasagem de 45% sobre os US$ 2.550 de agosto de 2008. Situação diferente é na importação, cujo preço vem ascendendo paulatinamente, num claro reflexo da escalada das compras brasileiras no exterior. Hoje, trazer o mesmo equipamento de 40 pés dos Estados Unidos sai US$ 2.450 ante US$ 1.850 em agosto de 2008. "No nosso negócio a queda de frete é muito rápida e vertiginosa, mas a subida é como escalar uma montanha", diz o diretor-superintendente no Brasil do armador Hamburg Süd, Julian Thomas, para quem a recomposição dos volumes de cargas não deve ser encarada como definitiva - o que explicaria o fato de os valores não estarem se recuperando na mesma proporção. "Pode ser reposicionamento de estoques, além disso existem muitos contratos com período de um ano, com valores fixos", avalia. O gerente-comercial do armador NYK Line do Brasil, Elmer Alves Justo, destaca que, de um modo geral, os fretes estão cerca de 20% inferiores. E pondera que, levados em conta os custos do desequilíbrio entre os fluxos de importação e exportação, operação portuária e despesas operacionais, "seria necessário um aumento geral de aproximadamente 30% para que pudéssemos recuperar a mesma situação de dois anos atrás". Mesmo a rota do Brasil com a Ásia, a menos combalida pela derrocada do comércio exterior, ainda não recuperou o desempenho. O frete de importação de um contêiner de 20 pés entre os portos de Xangai (China) e Santos custa atualmente cerca de US$ 2.200. Em agosto de 2008, o valor estava em aproximadamente US$ 2.450. "O trade com a Ásia foi o que menos caiu e o que vem se restabelecendo mais rapidamente", diz o diretor da Iro-Log, agente de carga que usa os serviços do armador China Shipping, André Seixas. Chamam atenção, no entanto, os valores depreciados na exportação. "Na rota Santos-Xangai o frete está cotado em cerca de US$ 800 o Teu, valor 63,6% menor que na importação, em razão do dólar extremamente baixo." Segundo a Datamar, o acumulado de importações e exportações em todas as rotas marítimas brasileiras nos 12 meses de julho de 2009 a junho de 2010 cresceu 5,6%, totalizando 3.606.353 Teus, contra 3.415.127 Teus no mesmo intervalo de 2008-2009. O incremento foi puxado pelo robusto aumento dos desembarques, que saíram de 1.430.815 Teus para 1.691.947 Teus, um salto de 18,3%. Já os embarques foram 3,5% menores nos 12 meses terminados em junho na comparação com julho de 2008 a junho de 2009: 1.914.407 Teus ante 1.984.312 Teus. Como o Brasil tradicionalmente vendia muito mais do que comprava, os fretes de exportação costumavam subsidiar os de importação. De maneira geral, os armadores não enxergam um efeito perverso nessa inversão de movimento e até veem consequências benéficas, como o equilíbrio da frota de equipamentos nos tráfegos. Isso porque quando as exportações estão muito mais altas do que as importações, as empresas de navegação são obrigadas a trazer para o Brasil mais contêineres vazios para atender o mercado. No momento em que as importações estão mais consistentes, diminui essa operação. Para se ter uma ideia, o custo de reposicionamento de um contêiner da Europa para o Brasil é de US$ 500 por unidade. "Há uma tendência errônea de encarar como virtude o fato de o país vender mais do que comprar. O importante é que haja livre comércio, porque assim todos ganham", argumenta o diretor do Centro Nacional de Navegação (Centronave), Elias Gedeon. "O ideal seria ter o navio cheio nas duas direções, o que acontece é que o tráfego nunca vai ser assim. Os navios podem estar cheios nas duas viagens, mas com equipamentos diferentes", diz Thomas. ‹‹ voltar |