Um porto no meio das Olimpíadas

Um porto no meio das Olimpíadas

Henrique Gomes Batista

O porto do Rio é considerado um dos mais regulares do mundo. Protegido na Baía de Guanabara, ele raramente fecha por mau tempo — isso não aconteceu na última década, por exemplo. Mas, até o próximo dia 9, ele estará restrito, sem funcionar das 11h às 17h. E voltará a fechar por 15 dias em 2015 e em outro período semelhante em 2016. O motivo? Os Jogos Olímpicos.

Os eventos-testes para as provas de vela estão causando o fechamento
do porto. Essa é a razão para o grande número de navios fundeados diante de Ipanema, Leblon e Copacabana. Inconformados, os usuários, armadores, terminais e clientes do porto se unem aos ambientalistas contra a modalidade na baía. Além de enfrentar águas poluídas, o impacto econômico não é pequeno.
O dia de um navio pode custar até US$ 100 mil, e a paralização afeta as escalas das embarcações em outros portos.
Muitos questionam como foi permitida uma paralização tão longa, pois se trata de um evento-teste. Alguns dizem que o fechamento do porto também poderia ser por menos horas por dia.
Para ambientalistas e portuários, o ideal seria que a vela olímpica ocorresse em outro local, como Búzios ou Angra dos Reis. Eles alegam que além de garantir a normalidade dos portos, as provas nestas localidades dariam um novo impulso turístico a essas regiões e traria mais segurança aos esportistas, que já reclamaram do lixo na baía neste evento-teste. Muitos questionam o poder que a organização dos jogos teve, pois nada foi negociado com o setor. Outros se impressionaram com a falta de posição da Antaq. Mas a associação dos usuários dos portos do Rio, capitaneados por André de Seixas, foi nesta segunda-feira ao Ministério Público para tentar minimizar os impactos neste ano e pensar em soluções para evitar o fechamento de 2015 e 2016.
De acordo com o Centronave, que representa 95% do comércio exterior brasileiro, não houve prévia discussão quanto às alternativas possíveis para evitar seus reflexos negativos, ou tempo hábil para que as empresas de navegação, bem como terminais, agentes marítimos e usuários dos portos refizessem o seu planejamento. “O alto grau de intervenções no tráfego e de mudanças de rotina já está provocando atrasos — com efeito em cadeia — e obrigando um grande número de embarcações a permanecer fundeado fora da barra, em frente às praias da Zona Sul carioca, aguardando na fila de espera para a atracação”, afirmou a associação, em nota. Muitos dizem que fazer as provas na baía só valeria se, por causa das Olimpíadas, a Guanabara fosse despoluída, o que não ocorreu e não ocorrerá até 2016. Insistir na prova em águas tão impróprias pode, na verdade, piorar a imagem do Rio. E, de quebra, trazer grandes prejuízos para a economia.

(*) A coluna foi publicada na segunda-feira na revista digital para tablet 'O Globo A Mais'



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