A informação e a migração de votos

 

 
Artigo da Meta Consultoria e Comunicação Ltda
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Rio, Outubro de 2010

A informação e a migração dos votos

 Nilson Mello* 

Análise política é um exercício de conjetura, em que especulação e certo grau de simplificação, sobretudo na atribuição de rótulos, são inevitáveis. Com a ressalva feita é possível estabelecer alguns parâmetros e projeções.

José Serra chegou a 32,6% dos votos pelos seus atributos – experiência na vida pública e extenso currículo político – mas também pelo fato de reunir as melhores chances de derrotar o continuísmo. Dessa forma, representou no domingo passado o voto útil capaz de impedir a manutenção, no Poder, do grupo que governa o país há oito anos.

Essas eleições provaram que a transferência de votos é um recurso com amplas chances de sucesso – e também que os institutos de pesquisa estão errando mais do que se espera deles. Mas, ao contrário do que se disse ao longo dessa semana, ainda não demonstraram o poder da mídia como fator preponderante. Pelo menos não da mídia no sentido mais estrito, de informação com potencial de gerar senso crítico.

Os reiterados escândalos do governo do PT, fartamente divulgados desde o “mensalão”, não foram capazes de evitar a reeleição do presidente Lula, de minar seus índices de aprovação (hoje na casa dos 80%), tampouco de impedir a transferência de votos para uma candidata que, até poucos meses, era considerada um “poste” – não apenas pela desconcertante falta de carisma, mas também por ser uma novata em campanhas eleitorais.

Cabe lembrar que apenas 4,5 milhões de brasileiros leem jornais regularmente, num universo de mais de 130 milhões de eleitores, de acordo com o Instituto Verificador de Circulação (IVC). Acrescente-se que, para ser bem informado, não basta ter acesso ao noticiário ou assistir ao Jornal Nacional: o bom uso da avalanche de informações que nos chegam diariamente pressupõe boa formação. É fato que quanto menor o grau de escolaridade, mais frágil o distanciamento crítico.

Também é fato que Dilma Roussef tem proporcionalmente menos votos nas camadas com maior grau de escolaridade. A candidata do PT carreou o voto ideológico e o voto adesista.

O voto adesista é representado por segmentos econômicos contemplados por políticas típicas de um “capitalismo de Estado” e também pelas parcelas da população mais suscetíveis ao discurso do grupo que detém a máquina pública. Para adesistas, mudanças podem significar a perda de vantagens.

Mas o voto adesista não é imutável. Não, ao menos, na mesma medida do voto útil em José Serra, do voto de opinião em Marina Silva ou do voto ideológico na própria Dilma. O desafio do candidato tucano no segundo turno, portanto, será a conquista não apenas de parte dos eleitores de Marina, mas também do eleitor não ideológico da ex-ministra. O desafio de Dilma, por sua vez, será se desgrudar dos escândalos.

A senadora Marina Silva, com seus 20 milhões de votos (19,6% do eleitorado) e melhor desempenho na história de um terceiro colocado na disputa presidencial, terá óbvia influência sobre a migração dos votos. Seguindo a coerência do raciocínio (algo imponderável em política), o voto de opinião permaneceria, em sua maioria, no campo da contestação, contrário ao continuísmo. Mas isso apenas em tese.

Um outro componente, ainda insondável, entrará em campo. O que causa mais rejeição ao eleitor de Marina: José Serra ou Dilma Roussef?

A falta de motivação nessas eleições, em razão, talvez, da ausência de empatia dos dois finalistas, ficou refletida no alto índice de abstenção (na casa dos 25%), um dos maiores da história. Para o cientista político Jairo Nicolau, a questão do voto obrigatório ainda não é algo que mobilize a sociedade brasileira a ponto de justificar a sua discussão, e revisão. Ora, não há prova maior da inadequação do voto obrigatório numa democracia do que a abstenção demonstrada nas urnas.

Nicolau, contudo, é desses analistas que preferem raciocinar de braços dados com a ideologia e não à luz dos fatos. Para ele, pior do que o voto obrigatório é o serviço militar obrigatório. Confundiu categorias – um dever constitucional, ainda que questionável, com um direito fundamental transfigurado em ato compulsório pela esperteza demagógica – e, assim evitou, em recente debate na TV, enfrentar o óbvio: o voto obrigatório, num país em que grande parcela do eleitorado ainda tem baixa escolaridade, privilegia o discurso populista e demagógico? Cria massas manipuláveis e vulneráveis ao assistencialismo?

Que partido ou corrente política sai poupado desse debate? Dilma? Serra? Marina? O PT, o PSDB, o PV? Com a palavra Tiririca, o campeão de votos.

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*Diretor da Meta Consultoria e Comunicação".

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