A imprensa como ringue |
A imprensa como ringue Por Nilson Mello Não é exagero dizer que mais de 98% das notícias que lemos nos jornais, ouvimos no rádio ou assistimos na televisão tiveram origem numa assessoria de imprensa. A rigor, os meios de comunicação nada mais são do que um palco de confronto de ideias. Vamos além: os meios de comunicação nada mais são do que um ringue de embate de interesses. Lidas assim, de primeira, as afirmações acima podem parecer exageradas e ferir os mais românticos ou ingênuos. Contudo, elas sintetizam uma visão realista do papel desempenhado por jornais, revistas, TVs, rádios e, mais recentemente, portais, blogs e sites jornalísticos. E é exatamente por isso que toda instituição, seja pública ou privada, deve procurar ocupar o seu espaço na “mídia”, fortalecendo a sua imagem e, com isso, fazendo a legítima defesa de seus interesses e do segmento que representa. Com esses esclarecimentos, já fica mais fácil entender por que se tornou tão relevante – por que não dizer decisivo? – para uma entidade sindical estabelecer um dispositivo de ação estratégica na área de comunicação. Se indivíduos têm interesses diversos, nada mais natural que empresas e entidades de classe também tenham divergências quanto a políticas públicas, projetos governamentais, marcos regulatórios etc. O embate, na verdade, nada tem de excepcional ou constrangedor – ele faz parte da vida democrática e, desde que travado dentro da lei, é bom que ocorra, porque contribui para o esclarecimento da sociedade. Mais que isso, pode contribuir para o aperfeiçoamento da sociedade. O próprio governo – ou os governos, em suas diferentes esferas e instâncias - saberá também, por meio dos instrumentos e sistemas de comunicação de que dispõe, participar das discussões, justificando, para a opinião pública, a decisão tomada. É claro que o embate seria ainda mais construtivo – e democrático – se, hoje, no Brasil, houvesse maior pluralidade de meios: os leitores, ouvintes e telespectadores brasileiros mereceriam ter mais (e melhores) opções. Afinal, concentração, em qualquer setor, tende a ser prejudicial. Se abordarmos a questão pelo enfoque estritamente econômico, considerando que vivemos num sistema capitalista, podemos até dizer que o segmento de mídia no país está precisando de um forte choque de mercado que garanta aos “consumidores” um leque maior de escolhas. Mas, como não podemos viver no Mundo ideal (que, no caso, seria a plena diversificação de meios e, por consequência, de visões do mundo), essa é mais uma razão para não deixarmos de expressar nossas opiniões e nos posicionarmos politicamente (na acepção ampla, mas também na estrita do termo) junto à opinião pública. Neste ponto, um alerta se faz necessário: quanto mais pró-ativa for a instituição, no sentido de se esforçar para ocupar um espaço positivo na mídia, divulgando suas atividades e conquistas, mais sucesso terá em defender os seus interesses, sejam eles institucionais ou mesmo comerciais, sobretudo nos momentos críticos, com noticiário adverso. Ou seja, não se pode deixar de participar desta “briga” e de se estar permanentemente pronto para ela. Até por que os adversários não abondarão o ringue – não deixarão o palco onde exibem suas “ideias”. *Artigo publicado na Revista Unificar nº39. ‹‹ voltar |