Uma economia pornográfica

Uma economia pornográfica


Por Nilson Mello
06/12/2013

A piada do humorista foi um pouco grosseira esta manhã, mas expôs o ridículo de nossa realidade econômica com rara contundência. Ao comentar o fraco desempenho do Produto Interno Bruto brasileiro, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, teria dito que ele (o pibinho) “é pequeno, porém, satisfaz”.


Essa ao menos foi a versão de Marcelo Madureira para a retórica ministerial e o horizonte limitado de nossa economia. Literalmente ancorada aos estímulos ao crédito e ao financiamento fácil dos últimos anos, essa economia simplesmente não se move.


Experimente subir correndo uma escada rolante no sentido contrário. Há muito dispêndio de energia, mas nenhuma eficácia quanto ao objetivo pretendido.


A política econômica do governo Dilma Rousseff é a encarnação dessa metáfora: a inflação alta, decorrente do ativismo fiscal e dos impulsos de crédito, representando o dispêndio de energia; a “patinação” na esteira, ou o andar sem sair do lugar, o PIB diminuto e ainda assim pornográfico, como bem lembrou Madureira. Muito estímulo e inflação, com crescimento pífio é o que a ineficiência produz.


O que constrange - e com razão pode revoltar alguns - não é a terminologia anedótica, por assim dizer, resvalando para o vulgar, mas o que vem à tona com o emprego da ironia, ou seja, a capacidade deste governo dizer que está tudo ótimo quando sabemos que vai tudo muito mal, sobretudo na economia.


Que governos mentem, sabemos todos. Sem falso moralismo, podemos até dizer que, na política, mentir é uma questão de sobrevivência, dadas determinadas circunstâncias. Mas para tudo há limites. E entre a sobrevivência de um governo que não acerta e a sobrevivência de uma economia que até pouco reunia todos os pressupostos para se desenvolver de forma sustentável, sem inflação, fiquemos com o interesse do país – ou seja, a segunda opção.


O PIB deve ter sofrido uma “pequena parada”, disse Mantega no último dia 02, ao comentar o recuso de 0,5% no terceiro trimestre do ano. Com crescimento abaixo dos 3% ao ano, o Brasil vem se mantendo na rabeira entre os emergentes e os principais vizinhos latino-americanos.


O mais curioso são os paradoxos. Como o governo não promoveu investimentos que garantissem produtividade à economia, tudo que conseguiu foi estimular a inflação, que segue renitente bem acima da meta dos 4,5%. Tardiamente, o BC retomou a alta dos juros e agora temos tudo de ruim ao mesmo tempo: pouco crescimento, juros altos e, apesar disso, preços robustos e resistentes.



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