Gargalos logísticos no pais do futebol

 

 
Artigo da Meta Consultoria e Comunicação Ltda
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 Rio, Julho de 2010
Gargalos logísticos no pais do futebol

Nilson Mello*

A Copa da África do Sul nos lembra que desaprovar convocações ou criticar decisões do treinador é prova de autêntico patriotismo. Em país onde todos são especialistas em futebol, por força da paixão, escalar o time do Brasil é quase dever de ofício.

O mundial na África também nos lembra - com dados que nos trazem à razão - que o Brasil precisa recuperar sua infraestrutura, hoje sucateada, caso deseje realizar com sucesso a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016, no Rio.

Mas não são apenas a Copa e a Olimpíada que estão ameaçadas. Para que sua economia cresça a taxas sustentáveis de 5% ao ano, o país precisa investir fortemente em portos, aeroportos, ferrovias e rodovias, conforme alertou em maio estudo elaborado pelo Morgan Stanley. O diagnóstico é convergente com reiteradas análises, de diferentes instituições.

A taxa de investimento em infraestrutura no Brasil está estacionada na casa dos 2% do PIB ao ano nessa década, quando já foi de quase 6% anuais, em média, na década de 1970. Apesar de o Poder Público gastar muito, nas três esferas, os recursos destinados aos investimentos têm estado sempre muito aquém do necessário.

As empresas privadas, que têm investido até 8% de seu faturamento líquido, de acordo com dados da Serasa Experian, não podem dar conta do recado sozinhas. Até porque, o contribuinte recolhe tributos (hoje na casa dos 37% do PIB), entre outras coisas, para que o Estado possa investir em desenvolvimento.

Não é exagero dizer que os obstáculos à produção aumentam os riscos de inflação. A situação se agrava com o aquecimento da economia, pois o crescimento esbarra na precária infraestrutura.

O Brasil tem a quinta indústria mais competitiva do mundo numa lista de 26 países com peso no PIB mundial, de acordo com recente relatório da Deloitte. Contudo, a competitividade de seus produtos no mercado exterior acaba minada pelos entraves logísticos e estruturais.

Nos portos, estimativas do Centro Nacional de Navegação (Centronave), com base em dados do Ipea, indicam que seria preciso investir R$ 43 bilhões na ampliação, modernização e aquisição de equipamentos nessa década – algo que não está se concretizando. O déficit de cerca de 50 berços de atracação faz com que hoje os navios esperem dias para operar em nossos terminais, impactando os custos da cadeia produtiva.

Em pouco mais de uma década, o movimento de contêineres em Santos - maior porto brasileiro e próximo ao esgotamento - deverá mais que dobrar, chegando a 7 milhões de contêineres/ano. O Banco Interamericano de Desenvolvimento (Bid) já previu um colapaso em Santos, caso os investimentos previstos em novos terminais não sejam efetivados.

Nos aeroportos, os congestionamentos que atingem os passageiros – facilmente observados por aqueles que viajam de avião – têm correspondência no setor de cargas. Estudo realizado pela McKinsey, sob encomenda do BNDEs, constatou que os 16 principais aeroportos de carga do país estão no limite de sua capacidade, sendo que, no segmento de importação, Cumbica (Guarulhos), Vitória e Viracopos (Campinas), já estão saturados.

De acordo com o Ipea, dez aeroportos de cidades-sede da Copa do Mundo de 2014 estão operando muito acima de sua capacidade, entre eles, Cumbica, Congonhas e Brasília que, junto com o Galeão, concentram 50% do fluxo de passageiros do país. Se considerado que o mercado aéreo cresce 10%, está pronto o cenário para um apagão aéreo antes mesmo da Copa ou da Olimpíada, e mais grave do que os anteriores – a exemplo do que já está ocorrendo nos portos.

No que diz respeito à malha rodoviária e, sobretudo, à ferroviária, sabe-se que a situação não é melhor.
Tudo isso explica porque, apesar do generoso relatório da Deloitte, a própria Fiesp reconhece que o Brasil está em 38º lugar em competitividade, num ranking de 42 países que juntos representam 90% do PIB mundial: as indústrias até podem ser eficientes; a infraestrutra, não.

E também explica porque, embora sejamos uma das maiores economias do mundo, estejamos na 61ª posição no ranking de logística do Banco Mundial – com um custo logístico que devora 17% de nosso PIB. Dinheiro que escoa pelo ralo.
Quando começaremos a virar esse jogo?

 

*Diretor da Meta Consultoria e Comunicação".

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