Um BC colocando o chapéu de BC


 Um BC colocando o chapéu de BC

Por Nilson Mello

24/07/2013

  O Banco Central tem a missão de trazer a inflação para a meta. A afirmação, feita nos últimos dias pelo presidente da instituição, Alexandre Tombini, foi surpreendente. Não que a defesa da moeda não deva ser o papel primordial do BC no âmbito da política econômica, mas porque, até hoje, a posição não havia sido definida de forma tão enfática por sua atual diretoria.

  A máxima “antes tarde do que nunca” vem, portanto, a calhar. O que se lamenta é que a defesa da estabilidade econômica seja anunciada de forma tardia, tornando o combate à inflação muito mais duro e o seu êxito, mais incerto e com custos muito mais altos para a sociedade.
 
  Em todo caso, Tombini aponta para uma inflação mais baixa em 2013 do que no ano passado (de 5,84%), embora não garanta que o índice estará dentro do centro da meta (de 4,5%). Em seus recentes pronunciamentos, a presidente Dilma Rousseff passou a considerar como meta os 6,5%, mas esse patamar é, na verdade, o seu teto, que já ultrapassamos este ano (6,7% em junho, no acumulado dos 12 meses, conforme comentado aqui no Blog).

   Analisando as palavras de Tombini, Celso Ming (O Estado de S. Paulo, de 21 de julho, página B2), comenta: “Falta saber até que ponto (o BC) está disposto a enfrentar o jogo contra de outros setores do governo”, agora que resolveu “dizer coisa com coisa e passou a agir em consequência do que diz”. O jogo contra é a política fiscal.
 
   Desde o início do governo Dilma até a recente afirmação de Tombini, a prioridade do BC não era o combate à inflação, mas sim uma meta de juros baixos (2% ao ano). O objetivo, não declarado, foi perseguido ainda que houvesse um ambiente fiscal expansionista pressionando os preços. O resultado foi uma inflação fugindo do controle e, agora, exigindo um esforço maior na política monetária do BC (calibragem dos juros).

   A mudança de discurso e (espera-se, definitivamente) de postura do BC vieram, conforme lembra o próprio Ming, do reconhecimento de que a inflação brasileira não é resultado de fatores exógenos (alta das commodities no mercado internacional), mas de problemas internos, ou seja, o excesso de demanda combinado a uma baixa produtividade da economia, por falta de investimentos.
 
   Paralelamente, tais circunstâncias estão correlacionadas à indisciplina fiscal, com excessos de gastos públicos contribuindo para aquecer a demanda acima da capacidade de oferta da , conforme já tratado em diferentes artigos e comentários deste Blog.
 
   Resolvido agora o problema de identidade do Banco Central, que, a julgar pelo discurso de seu presidente, se reconciliou com o papel primordial de guardião da moeda (controle da inflação), resta saber se a outra vertente da política econômica, ou seja, a disciplina fiscal, indispensável à estabilidade da economia, será cumprida.

   O problema é que o corte adicional de gastos públicos de R$ 10 bilhões, anunciado esta semana pelo governo, não será suficiente par alcançar o superávit primário do setor público de 2,3% do PIB este ano, informam especialistas ouvidos pelo jornal Valor Econômico (edição de 23 de julho). Lembre-se que este superávit já é o remediado, pois o anunciado no início do ano era de 3,1% do PIB, já descartado.
 
   A não ser que estados e municípios colaborem economizando 0,8% do PIB, o que politicamente é improvável, a meta é inatingível. O corte efetivo deverá ser de R$ 5,6 bilhões, inviabilizando até mesmo os 2,3% de superávit remediado. A ideia de reconquistar as expectativas positivas do mercado quanto ao controle da inflação já encontra aí mais um fator de desconfiança, contrariando os planos de Alexandre Tombini. Fiquemos então na torcida. Que é o que nos resta.
 

Em tempo:


   Não acho que formação acadêmica seja garantia de competência. Mas também não chego ao exagero de dizer que formação acadêmica seja dispensável. Pelo que consta, o secretário municipal de Transportes do Rio de Janeiro, o simpático e articulado Carlos Roberto Osório, não tem curso superior. Também não tenho notícia de que, a despeito de não ter nível superior, tenha construído, na iniciativa privada ou mesmo na esfera pública, uma consistente trajetória como Gestor e Planejador. Convenhamos, seria até surpreendente que isso tivesse acontecido, sem o pressuposto de uma boa formação acadêmica. Impossível não seria, porém, pouco provável. E vai parar logo na Pasta de Transportes... Por sua vez, o nosso alcaide, Eduardo Paes, bacharel sem registro como advogado (não fez o exame da Ordem, ou fez, mas não foi aprovado, não sei dizer), também não tem grande experiência como gestor, embora tenha sido parlamentar atuante. Acho até que o prefeito é trabalhador, mas toma decisões erradas por falta de experiência. Deveria, portanto, para compensar essa deficiência, cercar-se de um secretariado capacitado do ponto de vista acadêmico e com muita experiência em gestão e planejamento... Definitivamente, não é o que acontece. O Rio merecia gente mais qualificada resolvendo seus grandes problemas, sobretudo os de mobilidade urbana e planejamento viário. O Papa que o diga.



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