O que mais vão proibir?

O que mais vão proibir?

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 Estádio alemão: não faltam bandeiras


Por Nilson Mello

12/07/2013

 

  A recente mania brasileira de tudo proibir chegou definitivamente ao futebol. Vem no embalo do crescente ativismo estatal, da ideia equivocada de que o intervencionismo exacerbado produz um mundo melhor. Eis a razão para o excesso de leis e regras e para os desmedidos e reiterados experimentos na esfera econômica, sobretudo no atual governo, todos eles de resultados pífios, como se nota pelo crescimento medíocre e pela ressureição da inflação.

  A sociedade evoluída não é aquela que produz muitas regras, mas a que respeita as regras que já existem. Leio em algum lugar que o consórcio que administrará o novo Maracanã vai proibir o ingresso de torcedores ostentando bandeiras em mastros. Primeiro, sob o argumento de reduzir a violência, proibiram a cerveja nos estádios. Mas não ofereceram qualquer estatística, nem paralelos em outros países que comprovassem estar o problema relacionado à bebida.

  Por que uma pessoa pode beber à vontade no bar de esquina, mas não pode fazer o mesmo dentro do estádio, que está do outro lado da rua? Se é uma questão de saúde pública, falta coerência. Afinal, entre os maiores anunciantes no rádio e na televisão, principalmente em jogos de futebol, estão os fabricantes de cerveja.

  Agora, com a nova restrição das bandeiras com mastros, querem esvaziar o próprio espetáculo. Um estádio de futebol sem o tremular colorido das bandeiras perde grande parte de sua graça. Sobretudo o estádio que, durante mais de 50 anos, se notabilizou não apenas pela arte que grandes craques como Garrincha e Pelé exibiram nos gramados, mas pela explosão de alegria dos torcedores nas arquibancadas.

  Mas essa estúpida mania é assim mesmo: acha que o mundo se transforma por decreto, pela contundente e regular ação do governo. Daí porque tentaram, entre outros absurdos, “disciplinar” a imprensa. Pois bem, o setor privado sofreu a má influência e absorveu o hábito. Quer, ele também, produzir regras para enquadrar as pessoas. Os “gênios” que administram este novo e caríssimo Maracanã, cujo estrondoso valor tem todos os indícios de forte superfaturamento, acreditam que conseguirão um público mais civilizado se proibirem a bandeira – e, talvez, de quebra a alegria.

  Atos de vontade, expressos pelo ativismo legal ou pela ação oblíqua de agentes privados travestidos de autoridade pública, não transformam a realidade. Apenas reprimem o que há de mais autêntico numa sociedade. Se os “gênios” pretendiam imitar o Primeiro Mundo, dando uma aparência mais europeia ao Maracanã, deveriam, ao menos, ter se informado melhor. Na desenvolvida Alemanha, uma das mais sofisticadas culturas da Europa, o que não faltam nos estádios são bandeiras. E alegria, como prova a foto que ilustra este texto.

  Numa falácia digna de Pinóquio, repetida inclusive em pronunciamento presidencial com cadeia de rádio e TV, o governo alega que os novos estádios foram construídos com recursos do setor privado. Falso. Foram construídos pelo setor privado, mas com financiamento do BNDES, a taxas camaradas, abaixo daquelas que nós, mortais, captamos junto ao sistema bancário. E possíveis, apenas, em função dos aportes do Tesouro que, por sua vez, toma recursos no mercado, a taxas muito superiores. No final das contas, o dinheiro saiu do bolso do contribuinte, que arca com a diferença e, agora, não pode nem tremular a bandeira de seu clube quando for ao superfaturado estádio.

 



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