O que o encontro dos BRICs nos lembra

 

 
Artigo da Meta Consultoria e Comunicação Ltda
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Rio, Abril de 2010
 
O que o encontro dos BRICs nos lembra

Nilson Mello*

O encontro de cúpula dos países emergentes que formam o grupo dos BRICs – Brasil, Rússia, Índia e China – realizado em Brasília nos colocou diante de dados curiosos e nos dá a oportunidade de fazer uma breve análise sobre o nosso papel no cenário mundial. Juntos, os quatro gigantes detêm 42% da população e 14,5% das exportações mundiais, tendo sido responsável por 50% da expansão do comércio mundial nos últimos anos.

Traçando paralelos, chama a atenção o fato de o Brasil estar longe de ter um desempenho à altura de sua dimensão econômica no comércio exterior. Comparativamente, está bem atrás da China em volume e perde para Rússia e Índia quando se trata de exportação de manufaturados.

Apesar de sermos a oitava economia do mundo, com PIB de US$ 1,4 trilhão - o que nos dá a segunda colocação no BRIC - representamos apenas ínfimos 1,2% do comércio global e estamos longe de figurar entre os maiores exportadores – ranking que tem a China como primeira colocada desde o ano passado, quando desbancou os EUA.

Na esteira do fim da crise de 2008 e embalados pelo crescimento interno, seria oportuno verificarmos o que fazer para tornar o nosso desempenho externo ainda mais vigoroso. Sabemos que a balança comercial brasileira deverá apresentar crescimento em 2010, em relação a 2009, ainda que em patamares abaixo dos verificados em 2008. O dado já é um sinal positivo. A previsão da Associação do Comércio Exterior do Brasil (AEB) é de um movimento da ordem de US$ 330 bilhões - aumento de 17% -, com exportações alcançando os US$ 170 bilhões, embora com superávit menor do que em 2009 por força, entre outros fatores, de um câmbio favorável às importações.

Do ponto de vista conjuntural, portanto, o processo é de recuperação. Mas, do ponto de vista estrutural, há muito a fazer para termos uma pauta de exportações com maior parcela de produtos manufaturados, agregando valor ao nosso comércio exterior, e garantir uma participação mais expressiva no cenário global.

Válido dizer que importar muito não é e nunca foi problema para nenhuma economia desenvolvida ou em processo de desenvolvimento. A inserção global pressupõe uma via de mão dupla e, quanto mais intensas forem as trocas, maiores serão os benefícios para os países envolvidos. Maior competitividade, mais eficiência e produtividade das empresas nacionais, com melhores produtos e preços para os consumidores, são algumas das vantagens. Além disso, é preciso importar aquilo que não se tem ou não se produz em quantidade suficiente para poder gerar outros bens, e até reexportar.

Tampouco é ruim ser um grande exportador de produtos básicos, desde é claro, que se produza o suficiente para suprir o seu mercado interno e não se deixe de, como mencionado, agregar valor com bens industrializados. Não custa lembrar que a China, nosso maior parceiro comercial, é ao mesmo tempo um grande exportador e importador de produtos básicos e de manufaturados.

Rússia, por sua vez, detém um parque industrial com tecnologia de ponta, em especial no segmento de transformação e de metal-mecânica, enquanto a Índia vem se destacando nos setores de tecnologia e bens de consumo, conquistando, ambos os países, novos mercados.

O que nos cabe fazer, portanto, é garantir às empresas nacionais um grau maior de competitividade para disputar esse comércio global. E não é o caso de reclamar do câmbio, pois o regime de cotação flutuante, inerente a uma moeda forte, é componente indissociável de uma política econômica reconhecidamente vitoriosa. Aliás, artificialismos intervencionistas sempre geram distorções indesejáveis na economia, além de camuflar os verdadeiros problemas. E mesmo que um ou mais dos BRICs os adote, não precisamos copiá-los no que fazem de errado.

Na questão da competitividade, os verdadeiros entraves brasileiros dizem respeito, sobretudo, a uma carga tributária irracional, porque além de excessiva pune o consumo, reduzindo os ganhos de escala; a uma legislação trabalhista igualmente equivocada, pois onera o emprego; ao excesso de burocracia; e a enormes deficiências na infraestrutura logística, o que impõe crescentes custos operacionais à cadeia produtiva. 

Modernizar as legislações tributária e trabalhista, pelo desafio político, reconheça-se, é uma missão de longo prazo, mas que não deve ser negligenciada. No curto prazo, porém, podemos instituir mecanismos que simplifiquem os procedimentos alfandegários, eliminando a burocracia. Ao mesmo tempo, e isso é o principal, devemos buscar uma melhoria da qualidade de nossos gastos, permitindo que sejam feitos mais investimentos em infraestrutura. Recursos para tanto existem.

O Brasil investiu apenas o equivalente a 17% de seu PIB no ano passado, sendo que a maior parte dos aportes (12,2%) coube ao setor privado. Para crescer 5% ao ano, estima-se que o país precisaria investir de 20% a 25% do PIB, pelo menos. Lembremos que a China investe em torno de 40% do PIB para ter rodovias, ferrovias e portos eficientes. Elimina, assim, os seus gargalos logísticos, garantindo dinamismo a sua economia. Índia procura seguir caminho semelhante e a Rússia já dispõe de extraordinária infraestrutura.

Em suma, o encontro dos BRICs, se não teve uma agenda claramente definida, com metas concretas, ao menos serviu para nos lembrar o que devemos fazer na busca de maior competitividade e inserção comercial.

 

*Diretor da Meta Consultoria e Comunicação".

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