A assombração de uma política errática

A assombração de uma política errática

Nilson Mello
25/04/2013

    No debate sobre taxa de juros e inflação, a lucidez raramente prevaleceu no Brasil. E é isso o que explica termos convivido por décadas com um regime de hiperinflação que corroía a renda, desorganizava as empresas e inibia os investimentos, comprometendo o crescimento.

Agora que os índices de inflação estouraram o teto da meta e persistem há meses em patamares elevados, é legítimo indagar se faltou lucidez ao governo e ao Banco Central quando decidiram promover um processo de redução das taxas básicas de juro sem que houvesse um ambiente fiscal equilibrado.

Não é possível abrandar a política monetária quando se tem um quadro fiscal degradado - representado por excessos de gastos públicos. Ou o que se pretendia mesmo era estimular a inflação?

A pergunta é meramente retórica, pois certamente não era essa a ideia da equipe econômica e do Banco Central, tanto que agora, em sua última reunião do dia 17, o Comitê de Política Monetária (Copom) voltou a subir a taxa básica de juro (em 0,25%, para 7,5%), a fim de combater a persistente e generalizada alta dos preços.

 O que o governo e o BC conseguiram com sua condução errática foi comprometer a credibilidade de suas ações, aumentando o custo do próprio combate à inflação daqui para frente. Em outras palavras, a volta dos preços a níveis mais comportados deverá levar mais tempo e exigir maior esforço. Um quadro de incertezas no horizonte.

A desinformação, que é uma faceta da falta de lucidez mencionada de início, conjugada a uma propaganda de má-fé, induz parte da sociedade a acreditar num equívoco: o de que os juros são altos por obra de um conluio capitalista, para beneficiar banqueiros. O sistema financeiro, de fato, se beneficia de juros elevados. Contudo, os fortes gastos públicos são a verdadeira causa das altas taxas praticadas no Brasil. São esses gastos excessivos que obrigam a autoridade monetária, se responsável, a adotar uma política mais restritiva.

Juros altos são indesejáveis, mas não podem ser vistos como causa do problema, ou o problema em si. Este Blog abordou o assunto em diversos artigos nos últimos três anos (a pesquisa pode ser feita no quadro à direita desta página), o último deles no dia 25 de janeiro.

O mais curioso e – por que não dizer? – dramático é que o governo esforçou-se para ampliar o crédito e baixar os juros, a despeito dos evidentes riscos inflacionários que a sua inconsistência fiscal ensejava, com o objetivo de estimular os investimentos e o crescimento econômico, mas o desempenho, como se viu, foi pífio, o pior entre os principais países emergentes. Com a agravante de que, gora, tem que ter uma preocupação ainda maior com a inflação, de volta como assombração à memória de todos.

O consumo se expandiu, mas a economia patinou na ineficiência e o desenvolvimento não se sustentou. O que faltou então para que os investimentos se concretizassem, impulsionando o crescimento? Faltou uma política econômica mais clara e coerente, além de um ambiente regulatório mais confiável, sem as incertezas jurídicas que continuam a inibir o empreendedor. Em suma, faltou lucidez. E o que resta agora ao governo é fazer a lição. Será capaz?

 



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