A política econômica da inflação

 

 

A política econômica da inflação

Nilson Mello

O governo continua a dizer que o combate à inflação é uma de suas principais preocupações. Repetiu o discurso esta semana, quando o IBGE divulgou o IPCA (índice oficial) com alta de 0,53% em setembro (contra alta de 0,37% em agosto) e inflação acumulada de 7,31% nos últimos 12 meses - a maior taxa anual desde 2005. Nos dez primeiros meses deste ano a inflação alcança 4,97% (contra 3,60% de igual período do ano passado).

Apesar das altas contínuas e dos claros sinais de que as pressões sobre os preços permanecem, BC e governo – aquele sob nítida orientação deste – relaxam a política monetária (taxa de juros), apresentando uma conduta híbrida, errática ou ambígua (todos os termos se aplicam), que poderá redundar na consolidação de uma “política econômica da inflação”.

O fato é que o governo decidiu que baixar juros é mais importante do que controlar a inflação - e se mantém neste caminho, embora não o confesse plenamente. Acha que pode tolerar um índice de preços maior em prol de um crescimento supostamente mais robusto. Como se fosse possível crescer de forma sustentável com índices elevados de inflação.

O descontrole de preços atua de forma deletéria na economia, impede o planejamento das empresas, desorganiza contas públicas e privadas, gera insegurança jurídica (porque corrói contratos) e atinge de forma mais severa justamente a população de baixa renda. Vimos isso num passado não muito distante. E sabemos como foi difícil conquistar a estabilidade.

Vale lembrar que os juros altos não são causa, mas sintoma; ou “remédio” para conter os preços em uma economia que tem demanda por produtos e serviços acima da sua capacidade de produção. Inflação nada mais é do que a pressão sobre os preços decorrente desse descompasso entre oferta e demanda. Portanto, ao invés de combater os juros, melhor seria atacar os fatores que impõem juros altos.

Em outras palavras, o que o governo deveria fazer é atacar as circunstâncias que fazem com que os juros precisem ser altos para que os preços não fujam totalmente do controle. Essas circunstâncias são geradas por uma política fiscal ainda débil: excesso de gastos e despesas correntes resultando em baixo nível de poupança e comprometendo os investimentos necessários aos ganhos de produtividade.

Mas ao invés de ir à origem do problema, o governo prefere atacar o seu “remédio”, ao mesmo tempo em que aposta na crise mundial como fator capaz de debelar a demanda interna, segurando a inflação. A postura responsável, atrelada a uma política monetária comprometida com a estabilidade, está sendo abandonada.

E desta forma, a gestão Dilma Rousseff corre o risco de entrar para a história como o governo que ressuscitou a “espiral da hiperinflação”.



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