O fetiche da barbárie

O fetiche da barbárie

Por Nilson Mello
16/10/2014

   Os sunitas formam o ramo majoritário e, historicamente, o menos radical do Islã. Ao menos assim eram reconhecidos até o surgimento do Isil, o Estado Islâmico do Iraque e do Levante, na sigla em inglês (ou Isis, Estado Islâmico do Iraque e da Síria), hoje apenas Estado Islâmico (EI).


   Calcula-se que 84% dos muçulmanos pertençam a essa corrente, de posição mais neutra em comparação aos xiitas, kharijitas e outras denominações mais recentes.


   O radicalismo político e o fundamentalismo religioso eram tradicionalmente traços associados aos xiitas, não aos sunitas. Basta lembrar que o termo “xiita” serviu por um bom tempo para designar, no Brasil, parlamentares e políticos de posição mais radical, geralmente de esquerda.


   O apelido em tom irônico surgiu na esteira da revolução iraniana de 1979, liderada pelo aiatolá Ruhollah Khomeini e que levou à deposição do xá Reza Pahlevi. Khomeini pôs fim à monarquia artificial, totalitária e pró-ocidente de Pahlavi e inaugurou um Estado islâmico de caráter fundamentalista.


   No mundo contemporâneo, o Irã criado por Khomeini, morto em 1989, é certamente a mais nítida expressão de uma teocracia, ainda que hoje a revolução islâmica iraniana já não tenha mais a intensidade dos seus primeiros anos.


   Pouco tempo depois, na arrastada e sangrenta guerra entre Iraque e Irã (1980-1988), sunitas e xiitas travaram um confronto formal que resultou em 1,5 milhão de mortos. Com as economias dos dois países devastadas pela guerra, não houve vencedor formal – apenas perdedores.


   O antagonismo de Teerã ao ocidente e, em especial, aos Estados Unidos, fez com que o Iraque do então ditador Saddam Hussein - e de maioria sunita - contasse com o total apoio americano. Especula-se que o estímulo para que Bagdá rompesse o antigo acordo de fronteira com o país vizinho nos territórios ocupados pelas minorias curdas (estopim do conflito) tenha sido, na verdade, urdido em Washington, interessado na desestabilização do regime islâmico.


   Em 1990 e em 2001, nas guerras do Golfo e do Iraque, os alvos da política externa americana e de seus “planos estratégicos” passaram a ser Saddam Hussein e o próprio Iraque. A ocupação que se seguiu à guerra de 2001-2003 não teve êxito - como fica claro agora - em estabelecer um sistema político estável no país, com equilíbrio de forças.


   Alijados do poder, embora majoritários, sunitas forjaram o seu Estado Islâmico radical. A desestruturação da ditadura síria de Bashar al-Assad e a fraqueza institucional da presuntiva democracia iraquiana foram os terrenos férteis para a sua propagação.


   O Irã de hoje está prestes a se unir ao Ocidente e a países árabes na coalizão militar destinada a conter o avanço do EI – coalização que conta também com curdos e turcos. O regime de inspiração xiita volta a combater forças sunitas, mas agora tendo americanos e iraquianos como aliados.


   O sumário histórico pontua os acontecimentos, mas não explica o principal: como um grupo que adota um grau de extremismo sem precedentes, de barbárie ímpar, pode atrair para suas fileiras uma legião de voluntários procedentes de nações, culturas e até religiões tão distintas? Qual a explicação para o “fetiche” da violência ser tão poderoso?


   Estimativas das Nações Unidas indicam que os cerca de 30 mil combatentes do EI sejam procedentes de mais de 80 países, sendo que 2 mil deles são ocidentais - americanos, franceses, ingleses, dinamarqueses e alemães, entre outras nacionalidades.Entre os combatentes, há mulheres ocidentais, segundo notícias divulgadas esta semana.


   Tão chocante quanto ver dezenas - às vezes centenas - de homens, prisioneiros do EI, dirigirem-se de mãos atadas e em longas fileiras, de forma resignada, para a execução sumária, ou reféns ajoelhando-se com serenidade, para serem decapitados a faca fria, é saber que milhares de jovens ao redor do mundo são seduzidos por uma fórmula estarrecedora e ao mesmo tempo simples: o terror na sua forma mais brutal e gratuita. Não são ideias ou propostas que sobressaem no EI, mas a violência em estado bruto.


    A conclusão é que, para acabar com as guerras e a violência, seria preciso reinventar o ser humano.

 

Desempenho econômico – O mundo não enfrenta uma crise econômica generalizada, ao contrário do que o governo afirma, para tentar justificar o baixíssimo desempenho da economia brasileira, cujo crescimento será próximo de zero em 2014.
Este é o principal ponto do manifesto assinado por 164 economistas, de diferentes escolas e correntes - inclusive heterodoxos - e divulgado esta semana, com críticas à gestão da economia no governo Dilma Rousseff.
Entre os países vizinhos, a Colômbia deverá crescer 4,8% este ano com inflação de 2,8%; o Peru, 3,6%, com 3,2% de inflação; o México, 2,4% de avanço de PIB, com 3,9% de aumento de custo de vida. A inflação no Brasil deverá estourar o teto da meta, de 6,5%, sem garantias de que haverá crescimento.
Os dados comparativos jogam por terra a ideia - equivocada - que tem sido martelada pelo marketing oficial segunda a qual foi preciso deixar a inflação escapulir um pouco para não prejudicar a atividade econômica. Não se cresce com inflação.
No mundo, destaca o manifesto com base em dados da OCDE, só há quatro países a rigor em crise: Argentina, Itália e Islândia, além do Brasil. O documento faz um alerta: com crescimento baixo e inflação em alta, os índices de emprego no Brasil não tardarão a cair. Mais detalhes no link abaixo:

http://www.infomoney.com.br/mercados/eleicoes/noticia/3635648/164-economistas-criam-manifesto-rebatem-dilma-nao-crise-internacional



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